07 maio 2010

Programas que pingam sangue

Programa da Tarde, Brasil Urgente, Se Liga Bocão... É um festival de más notícias. Esse pessoal não quer nos convencer de que o mundo vai acabar, mas que já acabou. Nas tragédias das últimas chuvas no Rio, presenciei uma apresentadora ter o seguinte diálogo com uma repórter em Niterói, correspondente do programa: - Estamos aqui com uma senhora desabrigada que perdeu a casa e dois filhos, dizia a repórter. - E você já tem os números das vítimas? Indagou a apresentadora em ligação direta. - Não! Respondeu a repórter, mas vamos ouvir o triste depoimento. Nesse momento entra a mulher desabrigada falando em prantos: - "Meus filhos, meus filhos"!!! A apresentadora interrompe e diz: - Veja como está dramática a situação. Imediatamente passa para outro correspondente fazendo de novo a pergunta: - Repórter Fulano, já tem o número dos mortos na tragédia?
Chamou-me bastante a atenção ver essa apresentadora obcecada com a idéia de conseguir dados e dimensionar o tamanho da tragédia. Ela queria em primeira mão transmitir os dados antes que uma emissora concorrente o fizesse. Quem teve algum contato com imprensa, como eu, sabe que a coisa funciona assim. Mas perceba que conceito mais estranho o da cultura jornalística. Querem saber o quanto é grande a tragédia para dar uma escala ao desastre e ser pioneiro em dizer o tamanho dele. Mas já não basta ter sido uma casa caída ou uma família destruída para ser um desastre?
Acho curioso que, quando falta matéria nesse mesmo tipo de programa, é em um desastre mais restrito que eles encontram motivo de horas de exploração. Quando falta matéria é o tempo todo foco no choro individualizado na cena em plano fechado. Quando falta matéria essa imprensa parece ficar mais humana. Quando faltar matéria talvez o drama dessa mulher ganhe prioridade na contagem dos números oficiais e ganhe o destaque devido à pessoa humana digna de respeito por ser indivíduo.
Não consigo mais prestigiar isso e me arrependo de ter algumas vezes cedido à tentação de acompanhar. São todos uns fingidos a piedosos. No final é uma corja de exploradores da desgraça humana. Esses programas são instrumento do exercício de justiça própria. As pessoas querem ver alguém fazendo algo terrível para enxergarem menores os seus pecados. Todo mundo quer ver os psicopatas para não encararem suas neuroses, querem ver os assassinos para não se verem como iracundos que são. Querem ver os mais terríveis distúrbios e perversões para se sentirem menos imorais. Não sabem que a mente está sendo estimulada pouco a pouco a achar tudo normal.
Vamos ler a Bíblia! Lá fala quem é o ser humano e como tratar com ele, ainda mais se esse ser humano for você. Fala de como é a vida e como devo me comportar diante dela. Abaixo a cultura de massa! Vamos crescer espiritualmente! Não tem nada mais sábio que mudar o mundo de dentro pra fora. Deus nos ajude nisso!

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